A LENDA DA PUENTE DE LA RABIA – ETAPA 3 DO MEU CAMINHO

Há exatamente dois anos eu estava no caminho, no meu terceiro dia para ser mais exata, ironicamente, hoje aqui em São Paulo, o clima está muito parecido com o daquele dia, nublado e frio, o que me deixa ainda mais nostálgica. Eu fazia a etapa entre Zubiri e Cizur Menor, ainda me adaptando aos longos trechos de caminhada, mas já acostumada com o peso da mochila, na verdade aquele foi o dia que nós fizemos as pazes e ela passou a ser minha companheira, e não somente um peso desconfortável.

Em 22 de outubro de 2015, eu acordei renovada, foi a primeira vez que dormi de verdade na Espanha, pois fazia 7 dias que sofria com o jet lag (insônia resultante da diferença de fuso horário), por me sentir tão bem, decidi ir até Cizur Menor, ao invés de ficar em Pamplona, não que eu não recomende, na verdade é uma das minhas cidades preferidas no Caminho, mas é que eu já havia passado por lá na chegada, então decidi seguir em frente e caminhar um pouco mais para reduzir a quilometragem do próximo dia, pois eu sabia que era mais puxado.

A lenda da Puente de la Rabia

Saí de Zubiri assim que o dia amanheceu, como a maioria das cidades do caminho, ela é minúscula, com  apenas 449 habitantes (segundo o censo de 2013). Logo que se chega a cidade, somos recebidos por uma linda ponte medieval do século XII que passa sobre o rio Arga – alias, Zuburi significa “Vila da Ponte” em língua vasca (euskera) – Existe uma lenda muito interessante que diz que, qualquer animal que passe embaixo dos arcos da ponte se cura de qualquer doença, inclusive de raiva, por isso a ponte é chamada de Puente de la Rabia. Existem algumas variações dessa lenda, mas todas relacionadas a cura ou imunidade da raiva.

Tudo isso começou porque no século XI, quando começaram a construir a ponte, tiveram que escavar uma rocha para apoiar o pilar central, e encontraram o cadáver de uma jovem perfumada, que acreditaram ser Santa Quitéria, a quem era atribuído milagres relacionados a cura da raiva. Mas a história não acaba aqui! Na época tentaram levar o corpo para a catedral de Pamplona, fizeram um cortejo cheio de pompa, entretanto, quando chegou no local onde a Santa fora encontrada, a mula que a carregava empacou e ninguém conseguiu fazer o animal se mover, aí as pessoas entenderam que era lá que a Santa queria ficar, e novamente a colocaram no local onde a encontraram.

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Em Zabaldica visitei a pequena igreja de San Esteban, construída no século XII, lá existe uma imagem de Cristo onde as pessoas pregam post’its com pedidos e agradecimentos. A pequena igrejinha tem um sino de 1377, e foi lá que fui incentivada pela senhora que cuida do local a tocá-lo, para ouvir que som “precioso tiene”.

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Depois foi a vez de conhecer a Ermita de la Trindade de Arre, que fica em frente a linda ponte de mesmo nome, ambas do século XII. Bem em frente a ponte, o rio Ultzama apresenta duas quedas águas, que dá um charme especial ao local, e como se já não fosse lindo o bastante, ao fundo tem o Monte Ezkaba. Enquanto eu tirava fotos, uma senhorinha simpática, que vivia ali veio bater papo comigo, falamos algumas amenidades e no final, ela disse pra eu ter cuidado e me desejou um“buen camino”.

Já era final da tarde quando cheguei a memorável entrada de Pamplona. A cidade é linda, mas a sensação de chegar na frente das muralhas (construídas em 1533) é fantástica, elas te transportam no tempo, tudo é tão grandioso e bem conservado, que parece que estamos na idade média. Daí você entra na cidade e encontra aquelas casas lindas e coloridas, as ruas de pedras, olha… É uma sensação indescritível.

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Depois que cruzei a cidade murada, caminhei um bom trecho dentro da cidade, até chegar na estrada que me levou à pequena Cizur Menor, pelo caminho fui encontrando estudantes que me desejavam “buen caminho” o tempo todo. Dizem que são apenas 4,7km, mas sinceramente pareceu muito mais. Cheguei no albergue em frangalhos, tomei um bom banho e levei algumas horas pra me recuperar.  Foi em Cizur Menor que conheci uma peregrina austríaca, de 78 anos, uma pessoa incrível, com espírito jovem e aventureiro, sempre sorridente e bem-humorada. Infelizmente não fui capaz de guardar o seu nome, completamente impronunciável para mim. Ela estava fazendo o caminho pela primeira vez, a família até que tentou fazê-la mudar de ideia, mas foi em vão.

Foi um dia emocionante, após caminhar quase 27km, em meio a bosques, pontes medievais, pequenas vilas e da exuberante Pamplona, o meu dia terminou com um jantar delicioso em companhia da interessantíssima austríaca e de um francês tímido, porém simpático, e para soltar a língua e deixar a conversa mais animada, uma boa garrafa de vinho, como é costume no Caminho de Santiago.

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E aí, se inspirou? Nos próximos dias vou publicar mais posts estilo diário, para mostrar como foi o meu caminho, assim eu te conto um pouco o que vivi, e me delicio com as lembranças. Se gosta de lendas, recomendo o post sobre Santa Maria en la Cueva e a de Roldan e Ferragut entre muitas outras que estão aqui no blog.

Ultreya, suseya y buen camino.

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6 Replies to “A LENDA DA PUENTE DE LA RABIA – ETAPA 3 DO MEU CAMINHO”

  1. Parabéns Denise, belo relato. Fiz este mesmo caminho em 2013( Maio) e pretendo retornar agora em Maio 2018, para realizar o Caminho Aragonês. Abraço

    1. Denise Santos says: Responder

      Que legal Ricardo, se puder me manda um relato e algumas fotos para colocar aqui no blog. Um monte de gente busca informação sobre o Caminho Aragonês, dessa forma vc poderá ajudar outras pessoas tmb.
      Buen Camino.

  2. Elisabete Mei says: Responder

    Denise, Parabéns pelos posts! Estou “estudando” o passo a passo pois estou decidida a fazer o Caminho, vou planejar direitinho e até 2019 com certeza farei pela França.

    1. Denise Santos says: Responder

      Que legal, tem bastante tempo pra se preparar. Vc vai adorar.

  3. Musa Rabelo Almeida says: Responder

    Ahh que lindo, viajo com suas lembranças… Aguardando o próximo post. Bjss.

    1. Denise Santos says: Responder

      Vc poderia escrever as suas tmb.

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